13 de abr. de 2012

Castigo e Elogio (Leonore Bertalot)

A palavra castigo exige reflexão. Não gosto de usa-la quando se trata de educar crianças. O homem é um ser que aprende com seus erros, com as experiências e as consequências que os seus atos acarretam.

A criança cresce imitando, espelhando as experiências, as habilidades, os hábitos do seu meio. Ela realiza as suas experiências próprias: o fogo queima, a chama é quente, certos objetos quebram ao cair, outros cortam; a terra, o suco de frutas, o chocolate, etc, mancham, sujam a roupa, os galhos finos das árvores quebram; existem coisas "proibidas", provocando que os grandes gritem, se assustem, ou façam longo discurso, ou batam na criança que as toca, ou as come, ou as investiga etc. A tarefa do adulto é a de proteger o corpo e a alma da criança nos casos de grandes perigos e, no restante, guiar, acompanhar o menor nas experiências que a vida lhe oferece.

A criança pequena não erra, não atua por maldade.

Errar só pode quem sabe, mau só é quem conhece e sabe julgar entre o bem e o mal. Não se trata, por isso, de castigar a criança, mas sim, de ajudá-la a formar impulsos bons a partir de cada experiência.

Quebrou o vidro da janela? Ou a xícara preciosa da avó? O barulho, os cacos espalhados, a cara consternada ou triste dos grandes assustam a criança, fazem-na sentir com muita evidência a consequência do seu ato, premeditado ou não. Algumas recebem um grande choque e se este é aumentado por exclamações ou agressões físicas (que só são um desabafo de nossa emoção), a experiência é traumatizante e, não, pedagógica.

A criança "roubou" e "mentiu". Para que serve um castigo, tapas ou fechar no quarto, ou mesmo sermões insinuando que a criança pode ser rejeitada, marginalizada, até presa por tais atos? O ato deve ser analisado e julgado, nunca a criança.

Pegar coisas e dizer "não fui eu" não é ato de roubo e mentira na criança de 9-10 anos, nem defeito caracterológico do pré-adolescente, mas imaturidade ou consequência de atitudes incorretas do meio.

O comportamento difícil da criança é um alerta para adultos em seu meio, especialmente para os pais educadores. Falta de respeito, agressividade, sensibilidade exagerada podem ser sinais de carências várias: falta de amor, de interesse e de atenção às suas necessidades, atitudes rígidas demais ou negligência dos que devem dar exemplo.

Em vez de "castigar", prefiro usar a palavra recuperar ou consertar. Devemos "ensinar" como consertar estragos físicos ou psíquicos que causamos aos colegas, aos pais, à natureza etc.

O bom exemplo é um ato de educar bem mais eficiente que qualquer castigo.

Ser repreendido por uma pessoa que amamos muito é doloroso, constrangedor. Nós nos sentimos envergonhados, achamos que somos ruins, que não merecemos conviver com as pessoas que respeitamos.

Por outro lado, quando a pessoa amada nos elogia, a sensação é de felicidade profunda, sentimos um calor que nos permeia e um impulso de querer crescer e ficar sempre melhor.

Quem não conhece tais sentimentos? Dos dois podemos aprender algo para a vida.

O ser humano aprende e cresce como pessoa através das experiências que realiza. Uma reação de ira, como desabafo do adulto em resposta a um ato insensato do filho, não deixa de ser uma experiência esclarecedora sobre causa e efeito dos nossos atos, mas o efeito que produz na alma da criança não é o de fomentar a autoconfiança e a confiança no adulto, é o de faze-la sentir-se tolida, repelida.

Quando o ato da criança exige uma correção, esta será tanto melhor se, ao corrigir, também se criem nela impulsos necessários para crescer e melhorar.

Quando a correção precisa seguir logo o ato incorreto, respire dez vezes para poder agir com calma. Quando nossa reação não pode ou não precisa ser imediata, é bom preparar a conversa que iremos ter , talvez só a noite ou no dia seguinte, ou ainda no fim de semana. Estudar, então, junto com a criança, como pode ser consertado ou reposto o que foi estragado,; isto ajuda a querer crescer. Com crianças menores não serve muito conversar sobre o valor ou o perigo do que eles fizeram. Melhor é contar-lhes uma história em que alguém repara ou vence a fraqueza que causou o problema. Então a criança se identifica como herói da história que saiu vitorioso e passa a querer ser como ele.

É verdade que as vezes um tapa é melhor do que nenhuma reação do pai, na hora em que o ato da criança exige uma reprovação. Porém a agressão física, no melhor dos casos, é apenas uma muleta, uma substituição, por não nos ocorrer nada melhor. É nosso dever de adulto realizar um trabalho em nós mesmos, que nos possibilite aplicar correções mais construtivas.

 E o elogio deve ser autêntico, deve ser merecido, senão tem efeito contrário, só alimenta uma falsa auto-estima. Também a forma como elogiamos deve ter um efeito na alma da criança, que lhe infunda o desejo de crescer e melhorar sempre.

Acriança cresce ao nosso lado. Se ela percebe que nós também crescemos em acertos e autodomínio e que a ajudamos a consertar e corrigir o que ainda não foi certo, isto a encoraja a querer melhorar. Assim se cria um clima de confiança adequada para que sua alma possa desabrochar em toda sua plenitude.

(Leonore Bertalot)





Um comentário:

  1. Prezada Leonore, fiquei encantada com o seu texto. Há cerca de um ano tenho me preparado para ser mãe e comecei a estudar diversos temas relacionados com a educação dos filhos, pois quero estar mais capacitada quando eles nascerem. Como sou estudante de Logosofia, tenho me nutrido dos conhecimentos que esta ciência oferece acerca da pedagogia e tomei contato com vários conceitos sobre a necessidade de educar através do exemplo, não usar violência, estimular as boas ações, não castigar mas também não perdoar, pois o necessário mesmo é mostrar para a criança que está dentro dela o poder de repara os eventuais erros que cometer, ajudando assim que se forma a sua consciência do bem e do mal, etc. Enfim, ao ler o seu texto me deparei com tudo de belo que estou aprendendo com os livros logosóficos e admiro que você tenha conseguido chegar a essas conclusões com as suas experiências próprias. Parabéns pelo trabalho. Causou-me muita simpatia. Abraços, Flavia Camargo (flavia.css@gmail.com)

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